Capítulo XV Da Invocação

No sistema direto, ou “Protestante”, de Magia, há pouco a adicionar ao que já foi dito. O Magista endereça uma petição direta ao Ente invocado. Mas o segredo do sucesso em invocação não foi desvelado até agora. É extremamente simples. Quase não tem importância se a invocação é “bem recitada”. Há mil maneiras diversas de executar o fito proposto, no que concerne às coisas externas. O segredo inteiro pode ser sumarizado nestas quatro palavras: “Inflama-te em oração.” 1)

A mente deve ser exaltada até perder consciência de si mesma. O Magista deve ser propelido cegamente por uma força que, se bem que nele e dele, não é de forma alguma aquilo que em seu estado normal de consciência ele chama de Eu. Precisamente como o poeta, o amante, o artista são transportados fora de si mesmo num frenesi criador, assim deve acontecer com o Magista.

É impossível estabelecermos para a obtenção deste estímulo especial. Para uma pessoa, a tração estará no mistério da cerimônia toda; outra pode ser movida pela estranheza das palavras, até pelo fato que os “nomes bárbaros” não lhe são inteligíveis. Às vezes, no curso de uma cerimônia, o verdadeiro significado de algum nome bárbaro que até agora evadirá nossa análise pode lampejar nossa mente, luminoso e esplêndido, de forma que entramos em orgasmo. O aroma de um particular incenso pode excitar-nos efetivamente; ou talvez o êxtase muscular da dança mágica.

Todo Magista deve compor sua cerimônia de maneira que ela atinja um clímax dramático. No momento em que a excitação se torna ingovernável, quando todo o ente consciente do Magista experimenta um espasmo espiritual, nesse momento ele deve pronunciar a suprema adjuração.

Um método muito efetivo consiste em parar de súbito, por um supremo esforço de Vontade, repetidamente, à beira do espasmo, até que um momento chega que a ideia de exercer este controle não mais ocorre 2). Inibição não é mais possível ou sequer imaginável, e o ser inteiro do Magista, sem que o seu mais íntimo átomo diga não, é irresistivelmente arremessado avante. Em luz cegante, entre o estrondo de dez mil trovões, a União de Deus e homem é consumada.

Se o Magista ainda pode ser visto de pé no Círculo, quietamente prosseguindo com suas invocações, é que a parte consciente inteira dele se desprendeu do verdadeiro ego, o qual está além daquela consciência normal. Mas o círculo está inteiramente cheio daquela divina essência; tudo mais é apenas um acidente e uma ilusão.

As invocações subsequentes, o gradual desenvolvimento e materialização da força, não requerem esforço. É um grande erro de o principiante concentrar sua energia sobre o propósito declarado da cerimônia. Este erro é a mais frequente causa de fracassos em invocação.

Um corolário deste Teorema é que o Magista cedo descarta evocações quase que por completo – só raras circunstâncias exigem qualquer ação que seja no plano material. O Magista dedica-se inteiramente à invocação de um deus; e tão cedo seu equilíbrio se aproxima da perfeição ele deixa de invocar qualquer deus parcial; somente aquele deus verticalmente acima dele está em seu caminho. E assim, um homem talvez começou a praticar Magia somente com a ideia de adquirir conhecimento, amor, ou dinheiro, descobre-se irrevogavelmente dedicado à execução d’A Grande Obra.

Tornar-se-á agora aparente que não há nenhuma diferença entre magia e meditação, a não ser de um tipo muito arbitrário e acidental. 3)

Além destes métodos que envolvem atividade física direta, há alguns métodos mentais de Invocação, dos quais podemos mencionar três.

O primeiro concerne o assim chamado corpo astral. O Magista deveria praticar a formação deste corpo qual recomenda Liber O, e aprender a subir nos planos de acordo com as instruções naquele livro; porém, limitando sua “subida” ao particular símbolo, cujo deus ele deseja invocar.

O segundo método consiste em repetir um mantra apropriado ao deus.

O terceiro consiste em assumir a forma do deus – transmutando nosso corpo astral na forma d’ele. Este último método é realmente essencial a toda invocação propriamente executada, e nunca é demasiado cultivado.

Há muitas outras maneiras de auxiliar a invocação, tantas que é impossível enumerá-las; e o Magista será sábio se procurar inventar novas.

Nós daremos um exemplo.

Suponhamos que a Suprema Invocação consiste de 20 ou 30 nomes bárbaros; que ele imagine que estes nomes ocupam seções de uma coluna vertical, cada seção duas vezes mais longa que a precedente; e que ele imagine que sua consciência sobe a coluna em cada nome. A mera multiplicação produzirá, então, um sentimento de espanto e desnorteamento que é o reto antecessor do êxtase.

No ensaio “Entusiasmo Energizado” é dado um relato conciso de um dos clássicos métodos de despertar Kundalini. Este ensaio deveria ser estudado com cuidado e determinação. 4)


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1)
Isto é expresso cabalisticamente na velha Fórmula: Domine noster, audi tuo servo! Kyrie Christe! O Christe!
2)
Este esquecimento deve ser natural e espontâneo; é fatal tentarmos “relaxar” conscientemente.
3)
Existe a antítese geral, metafísica, de que a Magia é a Arte da Vontade de Viver, o Misticismo da Vontade de Morrer; mas – “Sobe a Verdade de mim: Vida e Morte são um, sim!”
4)
Os verdadeiros e primitivos cristãos utilizavam, em todos os detalhes essenciais, este método. Existe uma conexão real entre o que o vulgo chama de blasfêmia e o que o vulgo chama de imoralidade, no fato que a lenda cristã é um eco de um rito fálico. Há também uma conexão verdadeira e positiva entre a força criadora do Macrocosmo e aquela do Microcosmo. Por este motivo, esta deve ser tornada tão pura e consagrada quanto aquela. O enigma, para a maior parte das pessoas, consiste em como conseguir isto. O estudo da Natureza é a Chave daquela Porta.


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