Nesta revelação está a base do presente Æon. Dentro do registro da História já tivemos o período pagão: a adoração da Natureza, de Ísis, da Mãe, do Passado; o período cristão: a adoração do Homem, de Osíris, do Presente. O primeiro período foi simples, quieto, fácil e agradável; o material ignorava o espiritual. O segundo foi de sofrimento e morte; o espiritual se esforçava por ignorar o material. O cristianismo e todas as religiões análogas adoraram a morte, glorificaram o sofrimento, endeusaram cadáveres, O novo Æon é a adoração do espiritual unido ao material: de Hórus, da Criança, do Futuro.

Ísis foi Liberdade; Osíris servidão; mas a nova Liberdade é a de Hórus. Osíris conquistou Ísis porque ela não o compreendia. Hórus vinga tanto seu Pai quanto sua Mãe. Esta criança Hórus é um gêmeo, dois em um. Hórus e Harpócrates são um, e são também um com Set ou Apófis, o destruidor de Osíris. É pela destruição do princípio da morte que eles nascem. O estabelecimento deste novo Æon, deste novo princípio fundamental é a grande obra agora a ser executada no mundo.

Frater Perdurabo, a quem esta revelação foi feita com tantos sinais e maravilhas, não ficou convencido. Contra ela ele lutou durante anos. Só após a conclusão de sua própria Iniciação, no fim de 1909 e.v., foi que compreendeu quão perfeitamente estava obrigado a executar este trabalho 1). Repetidamente ele se afastou da labuta, reencetou-a por alguns dias ou horas, só para pô-la de lado novamente. Repetidamente, a incessante vigilância dos Guardiões o impeliu de volta ao trabalho; e foi no momento preciso em que julgara ter escapado que ele se percebeu fixado para sempre, sem qualquer possibilidade de se desviar novamente do Caminho, sequer por uma fração de segundo.

A história disto deve ser contada algum dia por uma voz mais vivida, Propriamente considerada, é uma história de milagre contínuo. É suficiente se for agora dito que nesta Lei jaz todo o futuro: é a Lei de Liberdade; aqueles que a recusam proclamam-se a si mesmos escravos, e como escravos serão encadeados e chicoteados. É a Lei do Amor; aqueles que a recusam se declaram a si mesmos filhos do ódio, e o ódio deles se voltará contra eles e os consumirá com suas torturas infindas. É a Lei da Vida; aqueles que a recusam serão submetidos à morte, e a morte os pegará distraídos. Mesmo a vida deles será uma morte em vida. É a Lei da Luz, e aqueles que a recusam se tornam assim escuros para sempre.

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei! Recusai isto, e caireis sob a maldição do destino. Dividireis a vontade contra si mesma: o resultado é impotência e conflito, conflito vão. A Lei não condena ninguém. Aceitai a Lei, é tudo é legítimo. Recusai a Lei, vos colocais fora de sua proteção. É a Lei que Jesus Cristo, ou antes, a tradição gnóstica da qual a lenda do Cristo é uma degradação, tentou ensinar; mas quase toda palavra que ele 2) disse foi mal interpretada e corrompida por seus inimigos, particularmente aqueles que se intitularam seus discípulos. Em qualquer caso, o Æon passado não estava pronto para uma Lei de Liberdade. De todos os seus seguidores, somente Santo Agostinho parece ter tido talvez um vislumbre do que ele quis dizer.

Outra tentativa de ensinar esta Lei foi feita através de Sir Edward Kelly no fim do século dezesseis. A opressão da ortodoxia impediu que as palavras dele fossem ouvidas, ou compreendidas. Em muitas outras fórmulas o espírito da verdade tem golpeado o homem, e sombras parciais desta verdade têm sido as maiores aliadas da ciência e da filosofia. Apenas agora o sucesso foi alcançado. Um perfeito veículo foi encontrado, e a mensagem foi entesourada numa caixeta ourivesada; quer dizer, num livro com a injunção: “Não mudes sequer o estilo de uma letra”. Este livro está reproduzido em fac-símile, a fim de não haver possibilidade de corrompê-lo. Aqui, então, temos a base firme de uma perspectiva definida para a fundação de uma religião universal.

Possuímos a Chave da solução de todos os problemas humanos, tanto os filosóficos quanto os práticos. Se pareceu ao leitor que nos esforçamos demasiado por prová-lo, nosso zelo deverá explicar nossa falta; pois bem sabemos o que está escrito no Livro:

“Sucesso é tua prova.”

Não necessitamos mais do que de uma testemunha: chamamos o Tempo, para que testemunhe quanto à Verdade de nossa causa.

 

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1)
De fato, foi só quando a Palavra dele se tornou contérmina com ele mesmo e seu Universo que todas as ideias alienígenas perderam significado para ele.
2)
Consulte Liber 888, “O Evangelho Segundo São Bernardo Shaw”, um estudo do Novo Testamento por A Besta 666, onde é provado que “Jesus” é uma figura composta de diversos elementos incompatíveis. Não há, portanto, nenhum “ele” no caso. Os Evangelhos são uma crua compilação de gnosticismo, judaísmo, essenismo, hinduísmo, budismo, com as palavras de passe de diversos cultos sacerdotais-políticos atirados junto ao acaso com um mistura das lendas deformadas dos personagens do Panteão Pagão; tudo grudado com um simulacro de unidade com o interesse de apoiar a tela sacudida das fés locais contra os assaltos da consolidação da civilização, e de aplicar o princípio de cooperação a “negócios” que a competição estava destruindo.


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